Antonio Clarete: a lavagem do carro

Quando a polícia trouxe Guilherme de Pádua para a delegacia o sogro o acompanhou, dirigindo o santana onde Daniella havia sido  ferida. Polícia, perícia, imprensa e pessoas presentes, puderam constatar que o carro havia sido lavado por um profissional. Os porteiros do prédio de Guilherme de Pádua também confirmam em seus depoimentos que, na noite do crime, o carro chegou ao prédio lavado.

Apesar dessa constatação, tão logo Guilherme confessou o crime,ao invés de reter o carro na delegacia, a polícia deixou que o sogro tornasse a leva-lo para casa, e se encarregasse, ele mesmo, de entrega-lo, mais tarde, à perícia. Não se precisa de muito raciocínio para tirar conclusões!

Voltando à lavagem profissional, de início, não se pôde localizar onde e quem a teria feito. O único sangue visivel no carro estava sob o tapete do banco do carona. Este local, como pôde ser observado,  havia sido lavado de maneira caseira repetidas vezes. Na época, não era de conhecimento público e nem do meu, a existência do Luminol,  que poderia ter detectado a presença de sangue não visível nas partes do carro que Clarete indicou. Mas a perícia tinha o produto, que seria mais uma comprovação de que Daniella foi golpeada dentro do carro, depois da emboscada, e atirada naquele matagal.  Estranhamente não o utilizou. A verdade é que nem todos estavam interessados em esclarecer!

Dona Hannelore Haupt, síndica do prédio onde viviam os criminosos, permitiu que eu gravasse suas declarações. Ela conta sobre as repetidas vezes que o carro dos assassinos voltou a ser lavado dentro da garagem do prédio:

 

Meses depois, como contei em post anterior, quando consegui localizar alguns dos frentistas que assistiram à emboscada, um deles se recusou a prestar declarações em juízo: tinha filhos e medo de uma represália por parte dos criminosos. Mas sentindo-se culpado por sua omissão, me deu o nome do frentista que havia lavado o santana dirigido por Guilherme de Pádua: Antonio Clarete.

Fui imediatamente ao posto indicado por ele. Ficava bem em frente ao barrashopping. Antonio Clarete já não trabalhava ali, mas nesse posto o gerente não se esquivou de me dar o nome completo e o endereço dele. Era em Parada de Lucas.

Clarete morava numa casinha modesta, nos fundos de uma primeira casa. Quando me viu tomou-se de grande pavor: “eu sabia que um dia a senhora vinha”, ele disse. E se agarrou com uma bíblia dizendo que nunca ninguém da sua família tinha entrado numa delegacia, e ele não entraria também.

Clarete trabalhava à noite, não assistia a novela, e só reconheceu Guilherme de Pádua como o condutor do carro que lavou, através das fotografias que viu na imprensa. O santana havia entrado no posto com um casal, e o rapaz que o conduzia, muito nervoso, ofereceu a ele uma quantia grande para lavar o banco traseiro do carro, onde havia sangue. Clarete lavou. Mas não entraria em delegacia nenhuma para contar isso à polícia. Sabendo que era evangélico localizei o pastor de sua igreja, o sr Manoel Ferreira, e a senadora Benedita da Silva. Ambos se prontificaram a me acompanhar, para escuta-lo, mas. ele tinha debandado. No entanto, segundo a vizinhança, suas coisas ainda estavam na casa.

Passei algumas semanas em Parada de Lucas,  sentada numa calçada.na frente da casa do vizinho, por onde Clarete teria de passar  quando voltasse. Um dia começou a chover. Aguentei firme. A chuva aumentou. O vizinho apareceu na janela, pensativo. Observou um tempo e perguntou se eu ia mesmo ficar ali. Disse que ia, e que naquele dia também passaria. a noite. Entao ele perguntou se eu queria entrar pra me abrigar da chuva. Me faria um café. Entrei. A cozinha era aberta para os fundos da casa, dali eu podia avistar a casa toda fechada de Antonio Clarete. E enquanto a água fervia, ele me diz de repente: “eu não devia fazer isso, mas vou fazer”. E gritou: Antonio, ela já foi!

Clarete apareceu na porta, quase desmaiou quando me viu. Entrou na casa. Reafirmou para o vizinho tudo o que já tinha me contado, incluindo a negação de comparecer a uma delegacia. O vizinho incentivou”se você viu, conta. Conta o que você viu. Ele, irredutível. Então eu joguei tudo. Liguei pra delegacia. E lá fomos nos dentro de um carro de policia com sirene ligada a sei lá quantos quilômetros por hora.

Foi uma saga que um dia vou contar no livro que pretendo escrever. Mas deixo registrado aqui que tenho muito a agradecer à então senadora Benedita da Silva e ao pastor Manoel Ferreira, ambos da mesma igreja frequentada por Clarete. Também ao dono do posto onde ele lavou o carro. Eles foram fundamentais para que Clarete compreendesse a diferença entre entrar na polícia como preso e como testemunha.

Entendido isso, Clarete depôs, fez o reconhecimento de Guilherme de Pádua, depôs em juízo e também no Tribunal do Juri. O gerente do posto de gasolina se manifestou na imprensa e foi arrolado como testemunha: ele viu Clarete atendendo o casal.

Depoimento de Clarete (pag 1) (pag 2) (pag 3) (pag 4)

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22 Responses to Antonio Clarete: a lavagem do carro

  1. Joaquim Ribeiro 05/10/2012 at 3:44 pm #

    Parabéns Glória pelo seu trabalho investigativo, quando ocorrido o crime eu era apenas uma criança de 2 anos, hoje com 22 estudante de direito me interesso em saber a elucidação do crime, só não consegui identificar qual foi o objeto que provocou as perfurações visto que a pericia disse não ter sido a tesoura e sim um punhal, foi encontrado esse punhal ? novamente parabéns pelo seu esforço para que fosse feito justiça. Abraço

  2. patricia silva 11/11/2011 at 5:28 am #

    Acena do crime é apavorante,que frieza cruel.apesar de tanto tempo ainda é chocante,mostro.

  3. patrcia silva 11/11/2011 at 5:18 am #

    Gostaria muito que as boas lembraças de Daniella Perez continuae gosto muito das cenas de novelas.ja vie muitas fotos dela é bom saber que as pessoas não esqueceu.afinal estrela é setrela e que nunca apaga.ja a do guilherme afundou pra sempre que a cara dele de louco se afunde mais
    canalha assassino.espero que nunca ele coloque a cara na telinha.(covarde,covarde,covarde,covarde,) assassino.

  4. Cristina 22/04/2011 at 1:01 am #

    Agarrado a uma “bíblia” mas se recusando a servir de testemunha contra uma injustiça?

    Não me admira que as religiões sejam antros de ladrões, homicidas, traficantes, pedofilos, covardes e mentirosos, ou que tenha sido quase sempre isso (há sempre um elemento religioso) que moveu psicopatas a atentar contra a vida humana, principalmente contra mulheres e crianças. Existem vários exemplos.

    Ele (a besta-fera Guilherme de Pádua) é ainda novo e cheio de vida: tem vida o bastante para atrapalhar-se com ela. Vamos esperar que ele seja pego por outro crime. Gente como ele faz tanto na entrada quanto na saída. Vamos esperar…

  5. Kelly Cristina Leal 17/03/2011 at 7:06 pm #

    Boas as dúvidas aqui colocadas. Tô doida pro livro ficar pronto logo.

  6. Irene Ribeiro 17/02/2011 at 7:43 pm #

    Mais uma dúvida: o que o Clarete pensou que fosse o sangue no carro? Eu li uma vez que ele pensou que fosse sangue de animal, de gente que carrega carne, pois ele não conhecia o Guilherme por não ver novelas. Espero que o livro tudo esclareça.
    Beijos.

  7. Lilian 17/01/2011 at 2:44 am #

    Tbem não sabia da parada na cobal para pegar sacos de laranha, que estranho esse cara circulou com a Daniela na maior??? e este cara que a viu feriada no carro, não foi procurado?? GEnte sinceramente, pq essa gente que viu a emboscada e ela no carro, não chamaram a policia imediatamente?? era obvio que a situação não era em nada normal. Gloria nos eslcareça o que houve, a sequencia dos fatos, obrigada

  8. Palewa Merçon 21/12/2010 at 10:35 pm #

    Acho legal a dúvida da Irene também, dá mais detalhes específicos para a gente Glória. Estabeleça o vinculo entre essas pessoas, quem conhece quem, como a tal mulher que te ligou conseguiu seu tel, etc.

    Tem muita coisa que ainda nos causa confusão… capriche bastante nesses detalhes no livro, hein!

  9. Irene Ribeiro 21/12/2010 at 8:53 pm #

    Ou então foi Paula quem saiu do carro e assumiu o escort? E Guilherme o Santana?

  10. Irene Ribeiro 21/12/2010 at 8:51 pm #

    Uma dúvida que tenho é de como esse frentista, esse que não quis depôr por medo de represálias, como que ele sabia que o Clarete havia lavado o carro do Guilherme? Ele conhecia o Clarete? O Clarete contou a ele? Enfim, como ele sabia, pq se eu entendi bem, o posto onde Dany foi emboscada é um e o posto onde se lavou o carro é outro certo? Eu tb to muito ansiosa pelo livro.
    Eu também gostaria de saber em que ponto teria ocorrido a execução do homicídio, nao sei se descobriram isso, mas enfim, eles pararam o carro no local do crime e mataram lá, foi isso? tipo, no carro mas no local do crime já?
    Ficou o tempo todo Guilherme dirigindo o escort e Paula o santana? Quando o cara foi entregar os sacos de ensacar laranja ao Guilherme, como que ele viu Dany se a Dany estava no santana com a Paula? Ou aconteceu algum evento anterior a esse e Dany estava já no mesmo carro que Guilherme?Não tenho dúvidas de mais nada, a não ser da sucessão de eventos que ocorreram na noite da morte de Dany, ainda não está tudo bem montado na minha cabeça. Não sei se eu que perdi alguma informação… Espero tirar essas dúvidas no livro, se alguém souber me explicar tbm, agradeço.
    Beijos.

  11. Irene Ribeiro 21/12/2010 at 8:13 pm #

    Uma dúvida que tenho é de como esse frentista, que não quis depôr por medo de represálias, como que ele sabia que o Clarete havia lavado o carro do Guilherme? Ele conhecia o Clarete? O Clarete contou a ele? Enfim, como ele sabia, pq se eu entendi bem, o posto onde Dany foi emboscada é um e o posto onde se lavou o carro é outro certo? Eu tb to muito ansiosa pelo livro.

  12. Palewa Merçon 21/12/2010 at 2:12 pm #

    Eu também já ouvi a versão de que o pouco sangue no matagal era devido ser um ritual de magia negra, pois precisaram “colher” o sangue da Dany. Mas o que vc postou aqui dá outra versão para a ausência de sangue onde estava o corpo dela, né Glória? Ela foi morta dentro do carro. Porém, como a Megg também cita aí embaixo, acho tudo isso um “festival de burrices”, mancadas sucessivas e ignorando o fato de ser famoso.
    Ainda existe nas nossasmentes, Glória, muitos pontos de interrogação. O crime nos causa repúdio erevolta, por isso temos tanta necessidade de entender ele na íntegra. A dinâmica dos fatos ainda não está bem clara para nós, já o que é incontestável nese blog é a premeditação do crime (que foi bárbaro demais), que Dany NÃO teve envolvimento com seu algoz e o perfil psicológico dos assassinos. O resto vc precisa nos dar mais elementos para compreendermos melhor, pois é tudo muito difícil de digerir e um tanto absurdo. É tudo tão louco nessa história que nos causa dúvidas e questionamentos. É difícil ainda acreditar que realmente aconteceu…

  13. Yasmin Villefort 21/12/2010 at 1:32 pm #

    Também tenho as mesmas dúvidas.
    Mas acredito que o livro tudo esclarecerá.

  14. Kelly Cristina Leal 21/12/2010 at 1:25 pm #

    Concordo com todas essas dúvidas.
    Eu quero muito que o livro fique logo pronto.

  15. Megg 21/12/2010 at 4:28 am #

    Nossa, eu tenho todas essas dúvidas abaixo citadas e muito mais, aliás todas as dúvidas que já li aqui, são as que tenho, creio que a maioria. Realmente a emboscada perto do posto é risco demais, poderiam ter avisado à polícia, sair do carro, socar a Dany e atirar no santana. E eu também não entendo isso da cobal. O guilherme principalmente se arriscou muito, ele era o “Bira” da novela das 20h “De Corpo e Alma”. Foi muito burro nossa. Tipo, não entendo tamanhas burrices. tb aguardo(muito) ansiosamente pelo livro. Abominamos esse crime.

  16. Palewa Merçon 21/12/2010 at 4:19 am #

    Estou ansiosíssima para chegar logo o dia do lançamento do livro sobre a Daniella Perez. Glória, conclua, assim que possível, esse projeto. Muita gente aqui ainda tem dúvidas em alguns pontos. A explicação de ter pouco sangue no matagal é pq eles mataram a Dany dentro do carro, no banco traseiro? Mas pq? Sujar o carro todo para depois ter trabalho de limpar e correr o risco de alguém ver o sangue? Pois devia ter muito sangue, já que Dany foi golpeada várias vezes. Acho isso tudo muito torpe e até “burrice”. E ainda acho incrível a emboscada no posto, na frente de testemunhas; a parada na cobal com a Dany desacordada no carro… pq Guilherme precisava tanto dos sacos de laranja a ponto de arriscar essa parada e alguém ver a menina machucada no carro? Segundo li uma vez num post seu no Orkut, um rapaz viu a Dany no carro desmaiada e sangrando, ele que entregou os tais sacos para o Guilherme que não esperava que ele fosse até o carro entregá-lo. Esse cara não testemunhou no Tribunal? Ai Glória, tudo isso ainda me causa estranheza pq é dar “mole” demais. É deixar pistas pra todo lado e com testemunhas visuais, ou seja, pq confiaram no silêncio dos que viram a Daniella ser agredida e/ou já ferida? Tais pessoas poderiam ter avisado a polícia em seguida… infelizmente, não avisaram. Mas poderiam ter avisado, concorda?
    Uma vez li que o dono ou gerente do posto da emboscada era parente da Paula Thomaz, que foi essa pessoa que assegurou o silêncio dos frentistas naquela noite e que depois os despediu. Ainda arrancaram folhas que comprovariam que Dany parou ali para abastecer, pouco antes de ser agredida, sequestrada e morta. Como assim? Masessesujeito ser conhecido da Paula é uma coincidência louca… mesmo assim não vejo motivo suficiente para esses rapazes não terem avisado à polícia. Tudo foi muito esquisito. Explica bem no livro o passo a passo, a saída dos assassinos com a Dany da Tycoon…

  17. Megg 21/12/2010 at 4:11 am #

    Mais um “post” que eu não conhecia.
    Estava com uma vontade enorme de entrar no blog, eu adoro ler os comentários, muito mesmo.
    Então, isso tudo reforça mais ainda que Dani estava mesmo no banco do carro. As punhaladas começaram lá. Só não entendo ninguém apreender o carro para perícia.
    Eu acho que houveram muitas falhas na investigação do caso Daniella, se não fosse a força de Glória Perez, muita coisa nunca teria sido esclarecida e mesmo assim ainda tenho uma série de dúvidas.
    Abraços.

  18. Yasmin Villefort 21/12/2010 at 3:22 am #

    Lendo a matéria do jornal neste post que diz que segundo os peritos é normal o assassino trocar de lugar com a vítima, confirmou uma certeza que eu sempre tive desde muito cedo, desde antes de saber detalhes, conhecer este blog, de tudo: que tudo o que o Guilherme dizia que a Dany fazia, na verdade era ele quem fazia, o assédio, cercando ela, enchendo o saco. Sempre pensei assim logo no início e dizia isso às pessoas.

  19. Fabiano Figueiredo 24/06/2010 at 1:26 am #

    Esse Antônio Clarete, que ajudou na condenação de dois assassinos e é um cristão evangélico de verdade, é que merecia espaço na mídia evangélica para dar entrevistas e também chamar as pessoas para participar da marcha com Jesus e não o facínora do Guilherme de Pádua, lobo psicopata que atualmente se disfarça de ovelha evangélica.

  20. Valesca 20/05/2010 at 12:14 am #

    Sempre tive certeza de que Dany não tinha sido morta naquele matagal,assim como tenho certeza de que as primeiras punhaladas que tomou foram no pescoço,nem precisa ser perita para ver isso,lembro bem do tênis dela marcado atrás,por ela ter sido arrastada até lá. É muita maldade,são dois vermes monstruosos.

  21. Fernanda 18/05/2010 at 5:14 am #

    E eu pensava que nunca tinham descoberto o lugar onde tinha acontecido o crime por não terem achado sangue, então foi no carro

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  1. Mauro Ricart e o querosene | Daniella Perez - 26/12/2012

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